As históricas tem seu marco, cada um em seu país, Vinhas da Ira se passa no norte-americano, enquanto Vidas secas passa-se no nordeste brasileiro, retrata a realidade de duas famílias que sobre pelo pobreza, e que não sabe o que pode acontecer no dia de amanhã se terão algo pra comer, ou um teto pra dormir, lutando parar um melhora de vida, mas a realidade e dura com eles, ele veem que tanto trabalho só enrique-se o burgueses, mas apesar das dificuldades da vidas lutam parar ter o seu espaço e seu trabalho digno
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sábado, 18 de junho de 2011
Vidas secas & Vinhas da Ira
A obra tem um ponto muito interessante porque, pela primeira vez, relaciona a seca e suas conseqüências para o povo muito mais à falta de interesse político da nação do que apenas a um triste fenômeno da natureza, regra, até então, utilizada pela grande maioria dos autores que tinham o sertão como pano de fundo de suas histórias, como O Quinze de Rachel de Queiróz.
Por ser narrado em terceira pessoa, o livro permite que o narrador se interiorize nos pensamentos dos personagens para revelá-los ao leitor. Assim, o texto fica estruturado no discurso indireto livre (predominante), em que o narrador se apropria do discurso das personagens para expô-los, evidenciando seus medos, desejos, raivas e frustrações através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens. Essa concepção narrativa fica mais evidente ao passo que as personagens do livro quase não têm fala. Graciliano trabalha o não falar de tais personagens como o máximo do subjulgamento de um ser-humano, ou seja, a privação da fala. Essa é outra característica que aponta uma crítica social de sua obra, a tamanha opressão sobre os retirantes que lhes tira, inclusive, o direito de falar.
Por ser narrado em terceira pessoa, o livro permite que o narrador se interiorize nos pensamentos dos personagens para revelá-los ao leitor. Assim, o texto fica estruturado no discurso indireto livre (predominante), em que o narrador se apropria do discurso das personagens para expô-los, evidenciando seus medos, desejos, raivas e frustrações através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens. Essa concepção narrativa fica mais evidente ao passo que as personagens do livro quase não têm fala. Graciliano trabalha o não falar de tais personagens como o máximo do subjulgamento de um ser-humano, ou seja, a privação da fala. Essa é outra característica que aponta uma crítica social de sua obra, a tamanha opressão sobre os retirantes que lhes tira, inclusive, o direito de falar.
protagonistas Fabiano, nordestino que luta contra a seca e a exploração, a miséria e a falta de estudo para dar uma vida melhor a sua família
sinha vitoria, esposa de fabiano, sabia contar
os meninos, filhos do casal
baleia, caçava preá para matar a fome
antagonistas o soldado amarelo, põe fabiano na cadeia injustamente
o patrão de fabiano, explorava o empregado, sempre pagando menos do que o combinado
sinha vitoria, esposa de fabiano, sabia contar
os meninos, filhos do casal
baleia, caçava preá para matar a fome
antagonistas o soldado amarelo, põe fabiano na cadeia injustamente
o patrão de fabiano, explorava o empregado, sempre pagando menos do que o combinado
Com o retorno das secas, a família abandona a fazenda e sai em busca da sobrevivência, com a remota esperança de que dias melhores virão e então seus filhos não terão de passar por tanto sofrimento.
As vezes eles fazem coisas com você.
Eles o machucam até você se tornar um homem mau.
E o machucam de novo e você se torna pior ainda.
Até que não é mais menino nem homem, apenas malvadeza encarnada.
(Ma Joad).
Análise do filme
O filme As Vinhas da Ira, dirigido por Jonh Ford, é um excelente exemplo de obra de arte que se faz clássica pela riqueza de sua abordagem, principalmente por tratar de problemas sociais , que perpassam gerações durante o desenvolvimento das relações burguesas, tais como consciência de classes, drama da Família Joad a história de famílias de trabalhadores rurais durante a Grande Depressão Econômica Fora expulsa de suas terras , e junto com outras famílias, em que se migrar para a Califórnia com o sonho de mais conforto e trabalho digno, mas la encontrar, a verdadeira dificuldade, vivendo como boias frias, tentando trabalhar para ter o que comer. Steinbeck defende o conceito de que o indivíduo isolado nada vale, e a sobrevivência só é possível quando existe solidariedade entre os semelhantes.
Em ambos os livros as mães (Sinhá Vitória e Mãe Joad) são os pontos centrais da família, todavia, em Vidas Secas, Fabiano e ignorante, e apesar dificuldade a família se mantem unida, isso não acontece na Vinha da Ira.
A morte da cachorra Baleia apresentava hidrofobia, e Fabiano teve que sacrificar-la ,. Já na morte de Casy, ex-pregador que lutava por melhores salários, foi assassinado por homens que ameaçavam trabalhadores em greve, tendo com conseqüência a saída de Tom do acampamento fugido da policia, por ter matado o homem que matou o ex-pregador.
A história acaba com Fabiano e sua família mudando-se para outro lugar incerto , com fome e com as mesmas dificuldades , olhando com um vida melhor . Em As Vinhas da Ira tem como desfecho uma enchente que leva mais uma vez tudo que a família Joad tinha. Então para se proteger, entram num galpão e encontram um garoto com seu pai agonizando, a Rosasharn, a irmã de Tom que acabará de perder um filho, amamenta o homem.
sábado, 11 de junho de 2011
Canção do exílio de Gonçalves Dias (análise)
Vamos analisar a Canção do Exilio De Gonçalves Dias, e um poema lírico, descreve um homem sozinho com saudades de sua terra natal, e com uma medo de morrer longe de lá, O poema pertence à primeira geração romântica no Brasil , o poema lembra nosso amado hino
No estudo semântico das palavras os parônimos são parecidas na escrita e na pronuncia, mas com sentido diferente. Logo abaixo colocamos um parodia junto com a Canção do Exilio para deixar bem claro a Semântica
COIMBRA, Julho, 1843. Romantismo
Paródia CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem crianças Minha terra tem palmeiras,
Onde nascem sem parar Onde canta o Sabiá
As crianças que aqui nascem As aves, que aqui gorjeiam,
Não têm lugar pra ficar Não gorjeiam como lá
Nosso céu está escuro Nosso céu tem mais estrelas
Nossas margens, secas estão... Nossas várzeas têm mais flores
Nossos parques estão vazios, Nossos bosques têm mais vida
Sem destino pra mudar... Nossa vida mais amores.
Só de pensar, sozinho, à noite Em cismar, sozinho, à noite,
Mais desgostoso fico de lá. Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem crianças... Minha terra tem palmeiras,
Sem lugar pra ficar; Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem mais temores Minha terra tem primores,
Que tais não há como acabar Que tais não encontro eu cá;
Só de pensar sozinho à noite, Em cismar –sozinho, à noite–
Mais desgostoso fico de lá, Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem crianças Minha terra tem palmeiras,
Sem lugar pra ficar. Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus, que eu parta, Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu veja tudo mudar; Sem que eu volte para lá;
Acabar os terrores... Sem que desfrute os primores
Que não consiga deixar pra lá! Que não encontro por cá;
E sem que aviste as crianças Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Com lugar pra ficar. Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem crianças Minha terra tem palmeiras,
Onde nascem sem parar Onde canta o Sabiá
As crianças que aqui nascem As aves, que aqui gorjeiam,
Não têm lugar pra ficar Não gorjeiam como lá
Nosso céu está escuro Nosso céu tem mais estrelas
Nossas margens, secas estão... Nossas várzeas têm mais flores
Nossos parques estão vazios, Nossos bosques têm mais vida
Sem destino pra mudar... Nossa vida mais amores.
Só de pensar, sozinho, à noite Em cismar, sozinho, à noite,
Mais desgostoso fico de lá. Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem crianças... Minha terra tem palmeiras,
Sem lugar pra ficar; Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem mais temores Minha terra tem primores,
Que tais não há como acabar Que tais não encontro eu cá;
Só de pensar sozinho à noite, Em cismar –sozinho, à noite–
Mais desgostoso fico de lá, Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem crianças Minha terra tem palmeiras,
Sem lugar pra ficar. Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus, que eu parta, Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu veja tudo mudar; Sem que eu volte para lá;
Acabar os terrores... Sem que desfrute os primores
Que não consiga deixar pra lá! Que não encontro por cá;
E sem que aviste as crianças Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Com lugar pra ficar. Onde canta o Sabiá.
Diferença entre parodia e estilização
A paródia uma imitação que possui efeito cômico, utilizando a irônica e o deboche em composições literárias (pode ser em filme ou teatros também)
Exemplo:
...Nosso céu tem mais estrelas [... Nosso céu esta escuro
Nossa várzea tem mais flores Nossas margens secas estão…
Nossos bosques têm mais vida Nossos parques estão vazios,
Nossa vida mais amores... Sem destino pra mudar…]
Estilização
estilizar é tirar o máximo de detalhes de uma figura, mas que se possa ser identificada, por exemplo os ícones de banheiro feminino e masculino são estilizados, pois quem o vê identifica que é um homem e uma mulher e não são necessários muitos detalhes. Também são estilizadas as placas de trânsito, símbolos de shoppings indicando elevadores, fadário e etc... os tradicionais bonecos de palito são a parte mais prática da estilização
Exemplo:
...Nosso céu tem mais estrelas [... Nesse céu sem estrelas,
Nossa várzea tem mais flores Nessa várzea sem flores,
Nossos bosques têm mais vida Nossas florestas sem vida,
Nossa vida mais amores... Vivendo aos prantos e dores...]
Nossa várzea tem mais flores Nessa várzea sem flores,
Nossos bosques têm mais vida Nossas florestas sem vida,
Nossa vida mais amores... Vivendo aos prantos e dores...]
Capitu & Luísa
Vamos analisar duas personagens de esplêndidos autores da literatura romântica brasileira: Capitu de Machado de Assis e Luísa de Eça de Queirós.
A obra Machadiana contém muitas armadilhas, daí a importância do leitor estar atento a tudo que o narrador, Bentinho, que acredita que sua amada ( Capitu) o traiu com seu melhor amigo Escobar, com o trecho, “a namorada adorável dos quinze anos já não escondia dentro dela a mulher infiel, que adiante o enganaria com o melhor amigo?”, induzindo o leitor a acreditar no mesmo, ao passar na narração se formos observar as migalhas de pão deixadas há um grande equivoco nos fatos, já que a historia é contada por Bentinho; então fica a duvida Capitu é culpada?
"
A principal diferença entre as duas mulheres é que Luísa (O Primo Basílio) revela-se frágil, um objeto nas mãos do homem a quem cabe determinar seu destino.
Capitu (Dom Casmurro), por outro lado, é mais forte e achando-se inserida nos padrões vigentes da sociedade patriarcal onde a mulher é reduzida à passividade total, ela deve casar-se, mas escolhe o marido.
Em relação ao adultério, que em Dom Casmurro é mera especulação, Luísa se supõe apaixonada pelo primo, já que na verdade se deixa levar pelas leituras que realiza e também pela opinião leviana da vulgar amiga Leopoldina.
A ameaça da denúncia por parte da chantagem de Juliana lhe desperta medo do marido e não receio da perda do respeito público e da dignidade.
O Primo Basílio é um romance realista, um estudo de caso, pois representa um fato social visto através de uma convicção realista. Luísa é a personificação da tendência mórbida de uma época e aí está a moralidade incisiva do livro: a moral do romance não está no fato de que a personagem principal morre depois da queda, está em que “ela não podia deixar de cair”. O autor nos impõe um caráter negativo, uma personagem títere e não uma pessoa moral.
Como Machado de Assis já observara em sua crítica, Luísa é uma mulher conveniente e enfadonha que, como ser inerte que é, apenas é empurrada por Basílio. O modo de ser de Luísa está sempre relacionado com o seu modo de agir. Luísa atua lendo e essa atuação a revela como uma mulher ociosa, ingênua, sonhadora e patética que se espelha nas heroínas dos romances que lê e se deslumbra com a figura romântica do primo. Na verdade, a personagem é produto de uma visão determinista que concebe o ser humano como resultado da relação raça, meio e época. Além disso, através da visão machista do autor, a personagem feminina nos é apresentada como vítima da vaidade e do “marginalismo lisboeta”. É uma mulher sem personalidade marcante, frágil demais para resistir às tentações e é levada puramente pelas circunstâncias. Nesse sentido, pode-se dizer que o papel da mulher queirosiana é um papel subalterno, isso porque tanto Eça quanto a sociedade da época não estavam preparados para ver a mulher como um ser independente, capaz de possuir seus próprios questionamentos e visão de mundo.
Por outro lado, a genialidade de Dom Casmurro está, principalmente, no fato da narrativa atuar como a possibilidade de restauração da memória numa tentativa de recuperá-la, deixando rastros para simultaneamente resgatá-la, embora sempre despistando o leitor, ao procurar restaurar o “vivido” vicariamente pela mediação de uma narrativa subjetiva e movediça. Nesse sentido, a memória seria uma ferramenta para a compreensão de um mundo sujeito à transformações vertiginosas, mas que deve ser valorizada enquanto experiência vivida.
Não é incorreto pressupor que o narrador Casmurro/Bentinho ao escrever coloca em prática uma intensa vontade de recuperar o tempo perdido, um resgate ao que não mais existe. Esse tipo de escrita busca uma inteireza supostamente vivida e acabada e, em última instância, pretende representar o irrepresentável, pensar o impensável, presentificar uma ausência. O processo de escrita estabelecido pelo narrador em primeira pessoa é a junção frágil de fragmentos, que mimetiza as trilhas imprecisas da memória, misturando os sentimentos de sua adolescência com as impressões de agora. A narrativa surge a partir da necessidade em resolver um conflito antigo e isso é facilmente percebido no romance. Bentinho ao construir uma casa igual a da sua infância não intenciona apenas redefinir seu eixo interior, mas almeja restaurar na velhice a adolescência, cuja vitalidade não soubera conservar. Levado por um pessimismo crescente que perpassa toda a narrativa, o narrador procura reviver aquilo que lhe maculou a sensibilidade usando de um processo racional para nos contar suas memórias.
Isso posto, em Dom Casmurro, o leitor deve levar em consideração que percorre um caminho arenoso, onde nada é o que parece ser, principalmente naquilo que tange a mulher. Em princípio, deve-se desconfiar de narradores que enfatizam dizer sempre a mais pura verdade e o delírio de suas fantasias contribui ainda mais para embaçar o leitor. Longe de serem heróis, esses personagens-narradores são pessoas desajustadas, desiludidas, vítimas de suas próprias inquietações. Apesar disso, conquistam facilmente a atenção do leitor, que num processo catártico vê neles suas frustrações reveladas. Nesse sentido, Machado desenvolve uma prosa realista, hábil ao compor complexos retratados psicológicos se distanciando tanto da idealização romântica quanto dos exageros cientificistas do Realismo-Naturalismo. Soube revelar os meandros da alma humana e combater, através da ironia sutil, as mazelas de nossa sociedade, ainda colonial escravocrata e autoritária.
Nos dois romances as duas mulheres estão sujeitas a um sistema moral de que participam de forma passiva, na medida em que não detém a palavra, mas ao contrário é falada, repetidora de um discurso, da qual não é o sujeito. Sabendo-se que é através da linguagem que se instaura toda forma de poder, esse discurso mistificador e exterior coloca a questão da sexualidade feminina, em uma sociedade patriarcal, num lugar de nenhum privilégio, onde as heroínas são sempre vítimas. A discussão da sexualidade funciona como um modelo inicial de dominação e está profundamente relacionada com outros elementos do contexto social.
A partir daí, da palavra cassada, as personagens femininas têm a vida cassada, interiorizando uma linguagem que não é a sua própria, mas uma linguagem autoritária que as reduz inconscientemente ao silêncio. Tanto Luísa quanto Capitu só têm a possibilidade de ocupar um espaço dentro da sociedade em que vivem: aquele que lhes é reservado pela expectativa criada por uma ideologia autoritária e patriarcal. A nenhuma delas é possível sair de seu espaço restrito para se aventurar num mundo mais amplo, mundo este do trabalho e da realização pessoal. Ao propagarem um discurso alheio, masculino e arbitrário, essas heroínas são, também, criaturas criadas por autores masculinos que falam por elas.
Eça cria uma personagem sem forma definida, totalmente submissa ao marido e ao amante. Sua intenção moralizadora se revela tanto no caráter dos personagens quanto na punição da adúltera. A moral defendida pelo escritor português é uma moral de mão dupla: há interdição do adultério feminino, mas a infidelidade do marido não interessa à sociedade nem tampouco é punida. Machado de Assis, ao contrário, cria uma personagem que rompe com o código social e transgride as normas patriarcais que se impõem. Capitu não é uma mulher submissa e quando interrogada a respeito da traição, opta por calar-se em prol de sua dignidade e honra. Enquanto Eça não estava preparado para criar uma mulher independente, Machado, com a escrita bastante amadurecida e gozando da melhor fase de sua produção literária, consegue compor uma personagem enigmática justamente por não se deixar afetar pelas neuroses do marido. Capitu é punida com o degredo, mas o narrador sofrerá a vida inteira pela culpa e solidão. Se Eça pretendia (e o fez) denunciar a família lisboeta, uma sociedade fundamentada em bases falsas, Machado denuncia o próprio ser humano, cuja infidelidade é apenas uma das mazelas de ordem moral que aflige a todos."
Capitu (Dom Casmurro), por outro lado, é mais forte e achando-se inserida nos padrões vigentes da sociedade patriarcal onde a mulher é reduzida à passividade total, ela deve casar-se, mas escolhe o marido.
Em relação ao adultério, que em Dom Casmurro é mera especulação, Luísa se supõe apaixonada pelo primo, já que na verdade se deixa levar pelas leituras que realiza e também pela opinião leviana da vulgar amiga Leopoldina.
A ameaça da denúncia por parte da chantagem de Juliana lhe desperta medo do marido e não receio da perda do respeito público e da dignidade.
O Primo Basílio é um romance realista, um estudo de caso, pois representa um fato social visto através de uma convicção realista. Luísa é a personificação da tendência mórbida de uma época e aí está a moralidade incisiva do livro: a moral do romance não está no fato de que a personagem principal morre depois da queda, está em que “ela não podia deixar de cair”. O autor nos impõe um caráter negativo, uma personagem títere e não uma pessoa moral.
Como Machado de Assis já observara em sua crítica, Luísa é uma mulher conveniente e enfadonha que, como ser inerte que é, apenas é empurrada por Basílio. O modo de ser de Luísa está sempre relacionado com o seu modo de agir. Luísa atua lendo e essa atuação a revela como uma mulher ociosa, ingênua, sonhadora e patética que se espelha nas heroínas dos romances que lê e se deslumbra com a figura romântica do primo. Na verdade, a personagem é produto de uma visão determinista que concebe o ser humano como resultado da relação raça, meio e época. Além disso, através da visão machista do autor, a personagem feminina nos é apresentada como vítima da vaidade e do “marginalismo lisboeta”. É uma mulher sem personalidade marcante, frágil demais para resistir às tentações e é levada puramente pelas circunstâncias. Nesse sentido, pode-se dizer que o papel da mulher queirosiana é um papel subalterno, isso porque tanto Eça quanto a sociedade da época não estavam preparados para ver a mulher como um ser independente, capaz de possuir seus próprios questionamentos e visão de mundo.
Por outro lado, a genialidade de Dom Casmurro está, principalmente, no fato da narrativa atuar como a possibilidade de restauração da memória numa tentativa de recuperá-la, deixando rastros para simultaneamente resgatá-la, embora sempre despistando o leitor, ao procurar restaurar o “vivido” vicariamente pela mediação de uma narrativa subjetiva e movediça. Nesse sentido, a memória seria uma ferramenta para a compreensão de um mundo sujeito à transformações vertiginosas, mas que deve ser valorizada enquanto experiência vivida.
Não é incorreto pressupor que o narrador Casmurro/Bentinho ao escrever coloca em prática uma intensa vontade de recuperar o tempo perdido, um resgate ao que não mais existe. Esse tipo de escrita busca uma inteireza supostamente vivida e acabada e, em última instância, pretende representar o irrepresentável, pensar o impensável, presentificar uma ausência. O processo de escrita estabelecido pelo narrador em primeira pessoa é a junção frágil de fragmentos, que mimetiza as trilhas imprecisas da memória, misturando os sentimentos de sua adolescência com as impressões de agora. A narrativa surge a partir da necessidade em resolver um conflito antigo e isso é facilmente percebido no romance. Bentinho ao construir uma casa igual a da sua infância não intenciona apenas redefinir seu eixo interior, mas almeja restaurar na velhice a adolescência, cuja vitalidade não soubera conservar. Levado por um pessimismo crescente que perpassa toda a narrativa, o narrador procura reviver aquilo que lhe maculou a sensibilidade usando de um processo racional para nos contar suas memórias.
Isso posto, em Dom Casmurro, o leitor deve levar em consideração que percorre um caminho arenoso, onde nada é o que parece ser, principalmente naquilo que tange a mulher. Em princípio, deve-se desconfiar de narradores que enfatizam dizer sempre a mais pura verdade e o delírio de suas fantasias contribui ainda mais para embaçar o leitor. Longe de serem heróis, esses personagens-narradores são pessoas desajustadas, desiludidas, vítimas de suas próprias inquietações. Apesar disso, conquistam facilmente a atenção do leitor, que num processo catártico vê neles suas frustrações reveladas. Nesse sentido, Machado desenvolve uma prosa realista, hábil ao compor complexos retratados psicológicos se distanciando tanto da idealização romântica quanto dos exageros cientificistas do Realismo-Naturalismo. Soube revelar os meandros da alma humana e combater, através da ironia sutil, as mazelas de nossa sociedade, ainda colonial escravocrata e autoritária.
Nos dois romances as duas mulheres estão sujeitas a um sistema moral de que participam de forma passiva, na medida em que não detém a palavra, mas ao contrário é falada, repetidora de um discurso, da qual não é o sujeito. Sabendo-se que é através da linguagem que se instaura toda forma de poder, esse discurso mistificador e exterior coloca a questão da sexualidade feminina, em uma sociedade patriarcal, num lugar de nenhum privilégio, onde as heroínas são sempre vítimas. A discussão da sexualidade funciona como um modelo inicial de dominação e está profundamente relacionada com outros elementos do contexto social.
A partir daí, da palavra cassada, as personagens femininas têm a vida cassada, interiorizando uma linguagem que não é a sua própria, mas uma linguagem autoritária que as reduz inconscientemente ao silêncio. Tanto Luísa quanto Capitu só têm a possibilidade de ocupar um espaço dentro da sociedade em que vivem: aquele que lhes é reservado pela expectativa criada por uma ideologia autoritária e patriarcal. A nenhuma delas é possível sair de seu espaço restrito para se aventurar num mundo mais amplo, mundo este do trabalho e da realização pessoal. Ao propagarem um discurso alheio, masculino e arbitrário, essas heroínas são, também, criaturas criadas por autores masculinos que falam por elas.
Eça cria uma personagem sem forma definida, totalmente submissa ao marido e ao amante. Sua intenção moralizadora se revela tanto no caráter dos personagens quanto na punição da adúltera. A moral defendida pelo escritor português é uma moral de mão dupla: há interdição do adultério feminino, mas a infidelidade do marido não interessa à sociedade nem tampouco é punida. Machado de Assis, ao contrário, cria uma personagem que rompe com o código social e transgride as normas patriarcais que se impõem. Capitu não é uma mulher submissa e quando interrogada a respeito da traição, opta por calar-se em prol de sua dignidade e honra. Enquanto Eça não estava preparado para criar uma mulher independente, Machado, com a escrita bastante amadurecida e gozando da melhor fase de sua produção literária, consegue compor uma personagem enigmática justamente por não se deixar afetar pelas neuroses do marido. Capitu é punida com o degredo, mas o narrador sofrerá a vida inteira pela culpa e solidão. Se Eça pretendia (e o fez) denunciar a família lisboeta, uma sociedade fundamentada em bases falsas, Machado denuncia o próprio ser humano, cuja infidelidade é apenas uma das mazelas de ordem moral que aflige a todos."
Fonte(s): http://www.filologia.org.br/soletras/13/14.html
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